domingo, 31 de janeiro de 2010

Bea - Filha Coragem Parte 2

Continuação



Enquanto fazia a viagem de regresso, um pensamento formava-se no meu espírito: fazer o mesmo aqueles que pela incúria e pela falta de respeito te deixaram nesta situação. Mas só me vinha ao pensamento a carinha da mana com os olhos lacrimejados (horas antes) a perguntar: - A Bea, está bem?? - Seria o mais apaziguante? o mais justo? Talvez! Talvez! Mas, e então a Joana, e a mamã? E seria indigno para a tua memória, para a tua luta. Eu e a mãe, optamos pela via da justiça dos homens, e vamos erguer a tua voz até onde nos for possível. Será suficiente?? Talvez não!!

Sabes?? As pessoas encarregadas de fazer justiça, encontram-se muitas vezes manietadas, e vão até onde lhes é possível, pois quem devia vir a público, pugnar pela verdade e auxiliar, assobia cobardemente para o lado. Mas vamos mesmo assim acreditar, como sempre acreditamos em ti. E vamos tentar - acima de tudo tentar - que tudo aquilo por que passaste, sirva, de alguma fora, para um ponto de viragem.

Nesses seis meses,tivemos oportunidade de constatar que a ligeireza das pessoas (ou de algumas) não te atingiu só a ti, que muitos são os casos em que as pessoas, embora atingidas, preferem sofrer caladas, pois a suposta justiça para todos não é bem para todos.

Eu costumo dizer que o dinheiro é caro, e que a justiça não é cega, mas para alguns é inacessível - perante obstáculos diversos - e, porque a vida continua, para muitos há limites. Então o grito de revolta não sai, a denúncia não sai, a dor é calada e por cada "borrada" que é deixada sem denúncia,outra vida é prejudicada. E continua-se a achar tudo isto fruto do azar. Coitado do azar,que tem as costas largas. Que sociedade é esta, em que a justiça para todos, é demagógica? É para o estado de direito que caminhamos?

Será normal, numa instituição pública onde, quem recorre ao livro amarelo, nem sequer merece resposta?

E todos esses inquéritos que são abertos! Será que existirão ainda pessoas que acreditem que não são para "inglês" ver? Nós, os pais da Beatriz, aguardamos por um determinado inquérito, aberto numa certa instituição. Era bom que o resultado do mesmo restaurasse um pouco a nossa fé. A ver vamos!!

Diga este o que disser,não nos diga é que a nossa Beatriz teve pouca sorte,porque então saberemos que algo "está podre" no reino do faz de conta.

É importante que as consciências se comecem a agitar, pois País - que considera que o tratamento aos idosos é o possível, e não o melhor - que negligencía as crianças é um País, que vai pelo pior caminho. E a nossa pátria,está a ir por caminhos, que envergonham os nossos antepassados.

Há uma enorme diferença entre ter como profissão servir o Povo, - que tem benefícios e não são poucos -e servir-se do Povo. Depois ainda há quem se admire de a figura eleita como o português do século tenha sido uma figura para muitos tenebrosa. Então indiquem-me uma figura de estado, que tenha merecido consenso, nos últimos 15 anos! A diferença é que,no tempo da outra senhora, a contestação era amordaçada,nos tempos que correm tem-se o direito de falar mas corremos o risco de ficar roucos, pois entramos na história "do assobiar para o lado". É de facto mais democrático, só que os resultados são nulos. É compreensivel! A poluição sonora é maior.

Sabes Bea!? Já passou algum tempo desde que partiste, mas esse misto de raiva e inconformismo tarda em atenuar, e não sei mesmo se algum dia se dissipará.

Só sei que as saudades são imensas e a espera pela justiça agonizante. Sei ainda que só vou conseguir sorrir (com vontade) quando conseguirmos algum tipo de justiça em teu nome e para os que antes de ti sofreram em silêncio, e para todos aqueles que continuarão a sofrer nas mãos de pessoas que estão na profissão errada, só que ainda não se deram conta. O mais grave é que ainda ninguém se deu ao trabalho de lhes dizer isso mesmo.

Espero ter a tua coragem e força porque, por cada dia que passa, a vontade de tomar a justiça nas minhas mão é maior,e eles andam por aí nas suas vidinhas, se calhar todos contentes, a pensar única e exclusivamente nos ordenados que usufruem.

E nós temos de viver o dia-a-dia, algumas vezes penosamente, outras como que por instinto, repetindo as rotinas obrigatórias. O vazio é enorme, e ás vezes só consigo encontrar consolo ao recordar o testemunho que nos deste,de coragem e de força.

Que a tua fugaz existência terrena possa ter, de facto,algum objectivo superior.

Não consigo, como já me foi várias vezes sugerido, encontrar dentro de mim algum tipo de perdão ou compreensão por esses energúmenos. Acho que nunca se irão dignar ou "perder" tempo para pensar no que te fizeram.

Vai haver, concerteza, uma excepção, quando comparecerem perante a justiça.

Mas, mesmo nessa situação, o único objectivo deles será concerteza livrarem-se cobardemente (ou tentarem) de qualquer responsabilidade, apoiados por uma cáfila de gente sem escrúpulos, que lá irá tentar desculpar, aquilo que sabem que é indesculpável. O que eu apelido de infanticídio por omissão, independentemente do que a justiça decidir, já tem o meu veredicto.

Espero que a justiça dos homens, seja capaz de fazer sentir, a esses senhores doutores, que têm de começar a ter mais respeito pelos seus semelhantes.

7 comentários:

dia-a-dia disse...

Por favor vos peço: CONTINUEM! Sigam adiante por esse caminho de pedras que se abriu diante de vós. Não voltem atrás. Não procurem atalhos fáceis. Não cedam. Pelos meus próprios filhos, pela vossa Joana e, sobretudo, pela memória da Beatriz, sigam. Pudesse eu ajudar-vos de outra forma...

Um abraço apertado a cada um de vós. Merecem-me todo o respeito e admiração.

Anónimo disse...

Sou a Sandra de Gondomar e visito com regularidade este blog pois também eu quero que seja feito Justiça para a enorme BEA.
Sou mãe de três filhos e jamais poderei imaginar como será a vossa dor. Beijinhos para o bravo pai, a maravilhosa mãe, radiosa Joana e para a vossa espectacular familia.
E um até já porque irei continuar a acompanhar-vos.

Anónimo disse...

Justiça é o reflexo do Portugal , cada vez mais Pequeno , com grandes diferenças entre os seus Pares .!!!!!

Patrícia disse...

A vida presenteia-nos com situações para as quais ninguem tem explicação, ver partir um filho é uma dessas, não se ultrapassa, nem agora nem nunca, e sobrevive-se com essa ideia que as coisas estão invertidas. Também recordo os ultimos segundos da vida da minha filha ao meu colo e do longo caminho até ao hospital com ela já sem vida ao colo, essas imagens não desaparecem por mais que lute contra elas, também fui mal assistida ao chegar ao hospital e também partilho a sua ideia, a medicina devia ser por vocação, mas não é....haverá alguns mais humanos que outros, mas a dor é sempre nossa e nunca deles por isso a parte humana fica de lado. Chorei muito ao ler as suas palavras, a ver o vosso sofrimento, e entendo-o bem infelizmente. A luta ninguem vos pode tirar ou negar, por isso continuem para que não seja sempre tudo do mesmo modo e que possa fazer diferença. Até uma próxima.

Sandra Oliveira disse...

Sou a Sandra de Sesimbra. Quero só dizer-vos que aqui continuo para QUALQUER coisa que precisem. Um abraço muito apertado.

Ana Pinho disse...

É com muita tristeza que leio a vossa história, a que foi, não a que haveria de ter sido!

Sou mãe orgulhosa de dois raios de luz na minha vida que só por eles faz sentido. Não imagino a vossa dor, mas chorei "convosco"!

E espero que a justiça dos homens seja feita com todo o rigor e justeza que ela permite.

Seguirei sempre as vossas palavras!
Bem hajam pela vossa coragem, mas principalmente pela coragem da vossa pequena GIGANTE guerreira!

Anónimo disse...

Sou a Sandra de Gondomar. Escrevo apenas para vos transmitir somente um abraço apertado e que Justiça seja feita. Assim voces esperam e também eu como tantas pessoas que são verdadeiramente humanas. Ela pode tardar mas chega.
Abraços fortes e beijinhos. Força!!!