sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A MINHA DOR MAIOR


Tenho 39 anos, fui mãe pela primeira vez aos 29. Nasceu a minha filha Joana, pequenininha, pois era prematura, devido a um problema chamado pré-eclampsia, assim teve que ser. A joana esteve internada um mês e dez dias, mas graças a Deus foi só para obter peso.
Apesar do susto que apanhamos, nunca perdi de vista o sonho de voltar a ser mãe, mas as contigências da vida obrigaram-me a adiar esse sonho.
Em finais de 2006 descobri que estava grávida, o João e a Joana ficaram radiantes, eu, eu fiquei preocupada, os dois a contrato, a casa por pagar e o meu problema de hipertensão que ficara da primeira gravidez, mas no meu intimo não podia estar mais feliz, ia ser mãe de novo.
A gravidez foi considerada de risco devido a vários factores: idade, hipertensão, pré-eclampsiana na1ª gravidez assim como a cesariana que já havia feito da Joana. Mas como estava medicada e como me haviam dito, depois da primeira gravidez, que se voltasse a ter filhos, que se fosse devidamente acompanhada e não deixasse chegar a gravidez a termo (pois as últimas semanas são as mais complicadas neste tipo de problema) e fizesse uma cesariana tudo correria bem.
Á excepção das últimas duas semanas, as outras 35 correram normalmente, sujeitei-me a uma amniocentese, pois a idade assim o exigia, grande ansiedade a espera do resultado, mas estava tudo bem com a Beatriz, ficamos a saber que a Joana ia ter uma mana, aliás eu nunca duvidei que fosse menina, nem tinha ainda pensado no nome para menino só o de Beatriz. e eu sei que estava tudo bem com ela e sempre esteve, assim demonstraram as análises, ecografias e CTG's...
Na 36ª e 37ª semana a tensão arterial começou a ultrapassar os níveis aconselhados pelo que tive de recorrer, várias vezes, á urgência obstétrica, até que numa delas fiquei internada.
O meu martírio e a minha dor maior estavam prestes a começar.
No dia seguinte ao internamento, a médica que me assistiu durante toda a gravidez no hospital, resolveu, ainda que com tantos antecedentes, induzir o parto.
Foi de manhã cedo que através de um gel que foi reforçado á tarde que o meu sofrimento e o da Beatriz teve inicio.
Estive desde as 9H00 da manhã até cerca das 03H00 da madrugada do dia seguinte com um único dedo de dilatação, a minha médica assistente saiu do seu turno sem nada ter resolvido acerca de nós e ali ficamos entregues ao próximo.
Por volta das 23H00 comecei com fortes dores, das quais me queixei, a prescrição foi um comprimido para as mesmas, chá, bolachas para passar melhor a noite, que no dia seguinte se resolvia o que fazer.
Claro que não resultou, até pioraram consideravelmente, voltei a queixar-me e a dizer que assim não ia conseguir aguentar, a resposta que obtive foi "a srª está a lutar contra as dores", foi-me administrada uma medicação no soro, provavelmente da mesma espécie da anterior, as dores continuaram até que o enfermeiro de serviço reparou que o coração da Beatriz não aparecia no CTG.
Fui encaminhada para uma cesariana de urgência, aquela que deveria ter sido feita muito antes de isto tudo acontecer, apercebi-me que a situação era grave mas nunca imaginei o quanto.
Unidade de Cuidados Intensivos, foi para lá que fui de seguida, afinal tinha feito uma rotura uterina. Mesmo ainda meio anestesiada, perguntei várias vezes pela minha filha, pergunta á qual ninguém me respondia, comecei a entrar em pânico, lembro-me que o mesmo médico foi lá dizer-me o que se tinha passado comigo e que me tinham a muito custo salvo o útero, que diz quem viu que não era mais que um trapo rasgado e, que nas próximas horas se houvesse hemorragias teria de ir ao bloco retirá-lo, mas da minha filha nada.
Foram ter comigo várias pessoas, entre as quais a pediatra que assistiu a minha filha quando ela nasceu, que me disse, quase em tom de pedir desculpa, que tinha reanimado a Beatriz pois era esse o dever dela.
Afinal a Beatriz foi encontrada num cenário dantesco e retirada morta, foi sujeita a uma reanimação exaustiva e ficou com graves lesões cerebrais.
Nesse dia a única coisa com que fiquei da Beatriz foi uma foto, tirada na neonatologia antes da minha menina ser transferida para Lisboa.
Nos dias seguintes, nos quais tive de ficar em recuperação, só tinha notícias da Beatriz através do João, que todos os dias corria para Lisboa com um nó no peito, por não saber como ia encontrar a nossa princesa.
No dia em que tive alta, sem forças, por estar com uma grande anemia e, quase sem me puder mexer fomos os dois ver a nossa bonequinha.
Foi um grande choque para mim saber que a Beatriz por ter sofrido uma asfixia grave tinha ficado num estado irreversível, a minha Beatriz que não foi planeada mas tão desejada, a minha Beatriz que durante 37 semanas nos fez sonhar a todos cá em casa.
Quase que dei em doida, estava sem forças, mas todos os dias tinha de ir ver a Beatriz, ao voltar a casa mais fraca me sentia, quase desisti da Bea, da Joana, do João e principalmente de mim. Se não fosse a força que o meu marido fez para me erguer, ainda que todo desgastado, não sei o que seria hoje da nossa família.
A partir daí comecei a viver em hospitais, Maternidade Alfredo da Costa, Hospital S. Bernardo e por fim D. Estefânea, afinal a Beatriz nunca chegou a conhecer a sua casa.
Prometi a mim mesma que iria estar sempre com ela, a Joana nas férias grandes foi para os avós no Porto, de modo a libertar-me mais e a ter um acompanhamento mais saudável. E eu fui ficando com a minha Bea, sempre de dia e á noite dia sim dia não, afinal ainda havia o João que apesar de se mostrar forte também sofria.
Estive lá sempre, nos banhos, no leite dado pela sonda uma vez que não engolia, nas aspirações das secreções que produzia em grande quantidade e não conseguia eliminar e, só aspirando é que melhorava a sua qualidade respiratória, a entubá-la para a alimentar, num sorriso esquivo que me deu quando um dia lhe fiz cócegas na orelhina, a cantar-lhe " O balão do João, sobe, sobe pelo ar, está feliz o petiz a cantarolar...", enquanto lhe fazia ginástica com os bracinhos e perninhas, estive lá nas inúmeras vezes que foi picada para análises, no exame horroroso que foi a punção lombar, no electroencefalograma, na ressonância magnética, nas vacinas, fui mãe, fui enfermeira e, convenci-me que o meu amor iria curar a Beatriz...
A Joana voltou e ia começar uma nova fase escolar na vida dela, não a podia deixar sem apoio, quantas vezes saí da pediatria a chorar porque tinha sempre de deixar uma filha para estar com a outra...
A minha grande dor veio rápido, a Beatriz começou com febres, depois com dificuldades respiratórias, ainda aqui em Setúbal julguei que ia perder a Bea, mas ela lutou como sempre fez e aguentou, mas teve de ser transferida de novo para Lisboa, voltando a ficar ventilada como no início, com grandes doses de medicamentos, a pneumonia bilateral deixava-a cada vez mais fraca.
A Beatriz nunca conseguiu desenvolver muito, mas já tinha umas bochechas bem gordinhas, uma pele macia e uns olhos pestanudos.
Mas nas duas últimas semanas de vida a Bea perdeu muito peso e nunca mais sorriu para mim.
Eu estive lá, juro que estive lá sempre que pude, mas não consegui ajudar a minha Beatriz que no dia posterior ao fazer seis meses descansou, depois de uma luta hercúlea para um corpinho tão pequenino e, eu estava lá...



Beatriz a mãe, o pai e a mana amaram-te com todas as forças que tiveram, agora meu anjinho olha por nós e dá-nos forças para continuar a lutar...
Alexandra Inácio


...por ti MEU AMOR

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PARA BEATRIZ DA MANA JOANA

Beatriz

Eu sempre quis ter um irmão ou irmã. Quando soube que ia tê-lo até pulei de alegria, pensei no que poderíamos fazer juntas ou juntos. O tempo passava e eu cada vez mais ansiosa dia após dia. Planeava brincadeiras, brincadeiras inventadas por nós. Pedi um desejo para que fosse menina. E passados alguns dias a mãe fez a amniocentese e soube que ia ter uma irmã. Eu ia ter (e tenho) muito mais que uma irmã ia ter (e tenho) uma amiga.
Quando tu nasceste fui ver-te ao hospital de Lisboa pensei que irias ficar bem melhor, mas afinal enganei-me.
Depois fui de férias com os nossos avós (Carmen e Possidonio).Para me levarem a passear e e.t.c..
Porque a mãe não podia ficar comigo, pois estava ocupada contigo Bea, pois tu precisavas de cuidados especiais e diferentes dos outros bebes - diziam o papa e a mama
Depois de saber bem o que se estava a passar, percebi que as coisas que planeava tais como: Brincadeiras, jogos, desenhos...... tinham de ser adiados.
Mas o pior disto tudo nem foi isso, mas sim o estado da minha irmã. Fiquei tristíssima tal como o pai e como a mãe. Mas vamos sempre amar-te Bea seja qual for o teu estado, físico e ou clínico. Para sempre...


BEIJOS DA MANA JOANA.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

PENSAMENTO DO DIA



Beatriz - FILHA CORAGEM

Princesa Beatriz


"Princesa".. Era assim que eu (Tia Graça) te chamava quando estava contigo e te pegava no colo. Sim eras a minha "Princezinha" que as fadas más não te ajudaram no teu nascimento e fizeram com que de Princesa passasses a "anjo" para a eternidade. Esperei sempre com ansiedade pelo teu nascimento. Queria tanto acompanhar o teu crescimento, já que com a tua mana não foi possível, porque os papás estavam a morar tão longe. Minha "Princesa Bea" deixaste-me tantas saudades que neste momento choro por ti que abalaste devido à incúria e irresponsabilidade de uns médicos que nem sequer deviam ser chamados como tal. Meu amor espero que onde quer que estejas sintas paz e possas zelar pelos teus pais e mana e ajuda-los a superar a tua ida.
Sempre te amarei e nunca nunca te esquecerei, minha "Princesa".

Tia Graça.







Jornal O Setubalense

Primeira página do jornal Setúbalense no dia 28 de Novembro de 2007


AGRADECIMENTO PÚBLICO

DO PAI

Dor Maior

Sabes Beatriz, ao contrário da tua irmã; tu não foste programada, mas foste sempre desejada, ao contrário da tua irmã, a tua chegada não era para ser tão atribulada, quis a incúria, e a má formação de algumas pessoas, que assim fosse. Serve esse depoimento, para dizer ao maior número de pessoas, aquilo que porventura nunca te poderei dizer.

Do Pai



sábado, 1 de dezembro de 2007